quarta-feira, 19 de maio de 2010

O VELHO PESCADOR


Foi em Baltimore. Certa tarde chegou em nossa casa um homenzinho de aspecto repugnante, rosto deformado e cheio de feridas. Queria um canto onde passar a noite, pois iria para o hospital somente no dia seguinte. Pensamos em recusar o alojamento, talvez devido à sua aparência.

Quando disse que se contentaria em dormir na varanda, acedemos. Seu ônibus sairia no dia seguinte de madrugada. Não quis jantar, pois trouxera a matula.

Contou algumas partes da sua vida: Era pescador e lutava para manter a esposa e cinco filhos. Sofria de um mal, aparentemente incurável.

Emprestamos-lhe um colchão com cobertas. No dia seguinte agradeceu e perguntou se podia “encostar” aqui numa próxima visita ao hospital. Quando saiu notamos que as cobertas ficaram intactas.

O tratamento médico continuou. Ele continuou também a freqüentar nossa casa. Sempre trazia pescados e ostras que apanhava nas pescarias. Chegou até a mandar pelo correio caixas de peixes congelados.

Tudo em troca de um pequeno gesto de caridade, feito inicialmente com muita hesitação da nossa parte. (Histórias urbanas)

Palavra de vida: O homem vê as aparências; Deus, porém, vê o coração” (1 Sm 16,7)

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