sábado, 28 de agosto de 2010




Encontrei uma pessoa que me confessou
que a sua família, uma vez por semana,
passa uma noite à luz da vela.

Tudo começou num dia em que a eletricidade faltou.
Nessa noite não houve televisão, nem rádio, nem computador.
Pais e filhos ficaram juntos em redor de uma vela acesa.
O serão foi divertidíssimo, conversou-se, contaram-se histórias
e o tempo passou serenamente.
A experiência agradou e a família, a partir desse dia
decidiu passar uma vez por semana, a noite à luz da vela.

Atualmente, durante o dia, se retiramos o tempo de sono,
as famílias dispõem pouco mais de três a quatro horas para
estarem juntas. Habitualmente o (des)encontro tem início ao jantar.
As refeições são feitas de televisão ligada para se ver as notícias.
Este momento de partilha por excelência, é assim desperdiçado:
a televisão intromete-se, como se de um muro se tratasse.

A seguir ao jantar, enquanto os mais novos se isolam no quarto
a ouvir musica, a jogar no computador ou a navegar na Internet,
os pais continuam hipnotizados pelo televisor, distraindo-se com
a novela ou com o reality show do momento.
O tempo passa e, sem darem conta, as quatro horas foram consumidas
num ápice. No outro dia, a rotina repete-se.

Para existir intimidade entre as pessoas é indispensável
que haja partilha. É importante revelar os pequenos acontecimentos
que ocorreram durante o dia. Os momentos bons, os maus, as dúvidas,
os desejos, as frustrações, enfim..., é preciso partilhar.
De que outra forma é que nos podemos conhecer uns aos outros?
Se perdermos este hábito como é que os pais podem acompanhar o que se
passa com os filhos? E o casal, como é que pode ter intimidade se não
existir diálogo?

No dias de hoje não se discutem em casa os vários assuntos da atualidade;
assistimos na televisão aos debates que os outros fazem por nós.
As crianças têm cada vez mais menos espaço para a imaginação.
Não brincam de policiais e ladrões, ou de príncipe e princesas,
preferem jogar em frente a uma tela um jogo que alguém imaginou para eles.

Os adolescentes não procuram pedir aos pais opiniões e conselhos,
em vez disso pesquisam na Internet. Acaba por ser mais cômodo para os pais,
porque assim, pelo menos não os aborrecem com perguntas difíceis.

Se refletirmos um pouco, percebemos que vivemos numa sociedade de consumo
que procura a todo o custo apoderar-se do nosso tempo livre e captar a nossa
atenção, apenas com um objetivo: obrigar-nos a consumir.

É assustador o número cada vez maior de horas que os adultos, jovens e até
as crianças passam por dia a ver televisão e em frente ao computador.
O tempo acaba por ser destinado quase em exclusividade para satisfazer
necessidades narcíseas já que a outra pessoa fica excluída.

Ninguém tem dúvidas que isto tem conseqüências na relação entre pais e filhos.
Mas, a relação entre o casal também fica atingida.
Muitos casamentos acabam por definhar com o tempo, por que não há comunicação.
O diálogo e a partilha são indispensáveis para que haja intimidade entre as pessoas.
Há coisas que têm que ser ditas.
Em alguns casos o silêncio pode ser corrosivo e devastador.

Um casal que atravessava uma grave crise conjugal apresentou-se ao médico
para tentar uma terapia de casal. Uma das queixas apresentadas pela mulher
era que estava casada há trinta anos e o marido nunca lhe tinha dito,
durante aquele tempo, que a amava. Por isso, ela sentia-se profundamente
infeliz e insegura. O marido com alguma indiferença respondeu:
Disse-lhe que a amava no dia do casamento, como não mudei de idéias,
não vejo a necessidade de repetir.

PRESCRIÇÃO MÉDICA:

Uma noite por semana
À Luz de Vela !!

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